domingo, 17 de fevereiro de 2008

Farc: terrorismo ou revoluçao?




Crianças brincam sobre estátua de mula cafeteira, na cidade de Armênia

A Colômbia tem várias belezas e faces. Mas náo dá pra pisar em solo tropical sem falar da guerrilha.
As Farc nasceram com uma moral marxista, romântica, nos anos 60. Mas o que se vê hoje é uma milícia de mais de 40 mil homens, que se mantém a custo de sequestros, extorsao de fazendeiros e de traficantes. Revolucao se faz quando se tem o apoio do povo. E náo ouvi nenhum colombiano em minhas conversas que apòie um grupo que sequestra pessoas durante 10 anos, coloca bombas em lugares públicos e alista parcelas da populaçao por pressao. Por outro lado, terrorismo pode ser definido pela prática militar sobre populaçoes civis. Além disso, se fosse necessário, eles produzem cocaína, além de se beneficiar dessa cadeia de poder paralelo. Na cola deles há outros grupos nao menos perigosos, o ELN, menor mas náo menos letal, e os Paramilitares, mercenários bancados pela oligarquia do campo que se desmobilizaram. Fora os autênticos narcos, traficantes de drogas por convicçao.
Complicado esse país. E ainda há uma imagem simplista desses grupos. Nao se pode arrebentar com todas essas organizaçoes invadindo os territórios ocupados por eles. Afinal há camponeses, indígenas, sequestrados e soldados trabalhando sob forma de obrigaçao. E como me disse uma vez um espanhol sobre o ETA, até os terroristas "sáo cidadaos".
Náo é fácil defender a democracia sendo um Estado criticado por todo o mundo. Álvaro Uribe, de direita histórica, me parece fazer um mandato correto nesse ponto, pressionando a ilegalidade até os limites da lei. Mas nessa política carrega o estigma de dificultar a negociaçao de cerca de 500 sequestrados políticos pelas Farc...
A Colômbia sofre, o mundo se divide. Por isso, a libertaçao de duas senhoras pode representar o começo de uma nova história. Resta saber qual.
Nos próximos posts, conto a incrível história do menino Emmanuel, nascido refém da guerrilha, e o papel do fanfarráo Chávez no seu processo de paz bolivariana.

4 comentários:

Igor Ojeda disse...

Tem um lado aí muito importante que é o terrorismo de Estado, além das ações dos paramilitares.

Nos últimos 20 anos, mais de cinco mil militantes da Unidad Patriótica, o braço político das Farc, foram assassinados.

O mesmo acontece com líderes indígenas, sindicais e de movimentos sociais.

Não defendendo as Farc, mas o número de mortos pelos paramilitares e pelas forças de segurança oficiais é bem maior que o da guerrilha, e o Uribe está umbilicalmente ligado aos paramilitares.

E os mortos não são guerrilheiros, são civis, só pelo fato de serem líderes em suas comunidades, sindicatos etc...

Pra mim, a política do Uribe só piora a situação e nunca vai solucionar o problema.

Igor Ojeda disse...

Fala Edsão.

Aí vai um site legal sobre direitos humanos na Colômbia:

http://www.dhcolombia.info/

Abraço

Simone Iwasso disse...

terrorismo.

Igor Ojeda disse...

Edsão e Si,

Não tô defendendo as Farc. Não tô querendo identificar mocinhos e bandidos. O que eu estou tentanto dizer é que me parece equivocada a idéia de que existe uma sociedade colombiana querendo viver em paz e os monstros das Farc não deixam. É essa a imagem que a mídia passa.
Edsão, vc disse lá no meu blog que a constituição de um braço político é o caminho. Foi justamente o que rolou no fim da década de 80, começo da de 90. Mas, o que aconteceu? Milhares (não é exagero) de militantes desse braço político foram eliminados pelos paramilitares e pelo Estado.
Como disse no comentário anterior, o número de mortos pelos paramilitares (braço do Estado) e pelo próprio Estado é bem maior que o das Farc (de novo, sem querer defender).
Mas eles não matam guerrilheiros. Eles matam líderes comunitários, líderes indígenas, sindicalistas, pelo simples fato de incomodarem o projeto de "desenvolvimento" neoliberal do governo. E anunciam à opinião pública como baixas das Farc, como vitória da luta contra o terrorismo. Não estou tirando isso da minha cabeça. Eu e o BF temos contatos com sindicatos e grupos de direitos humanos de lá. Mas isso a mídia não fala (o principal instrumento de manipulação da mídia não é a mentira, e sim a descontextualização).
E tudo isso com pesado apoio militar e econômico dos EUA.
Por isso que achei o fim as marchas contra as Farc que rolaram esses dias. Deveriam marchar contra as Farc, mas também contra o terrorismo de Estado colombiano e de seus aliados paramilitares.